13.3.17

Narciso


O belo moço, debruçado
à beira da fonte, mira
a suprema maravilha
dentro do espelho gelado.
E decide apaixonar-se
pela luminosa face:
não pelo traço que conhece
que com seu próprio semblante
no amado rosto se parece
mas pelo dessemelhante:
pela criatura estranha
que à beira da fonte emerge
nas águas do amor se banha
o belo moço, e se perde.

(Do outro lado do espelho,
Narciso, lúcido, ignora
a conhecida miragem.
O céu se pinta de vermelho
- espanto tanto da hora -
a tarde ensaguenta a paisagem).


In Poemas Durante a Chuva
Lisboa, 1999, Mariposa Azual