I.
A minha avó varria a casa
o avô criava galinhas
todos os dias vinha uma poeira nova
trazida pelo vento ou na sola das botinas
a minha avó acordava cedo
espanava o tampo das mesas, os braços da poltrona
juntava montinhos de areia no batente das portas
e recolhia tudo, silenciosa
no quintal, o avô criava galinhas
Suzana tinha sete pintos, o Baby quatro
mas Alfredo é quem tinha mais
por cima de tudo, o sol também se calava
II.
no entanto sobrou alguma coisa atrás de um armário
entre a parede e a cristaleira
nas páginas de um livro velho
as galinhas morreram todas - salvo uma
que ninguém tinha visto nascer e procriar
e que contudo espalhou a sua descendência
por fim a casa ruiu
os avós foram esquecidos
mas a cidade, inexplicavelmente
anda coberta dessa camada de pó - que se avoluma
enquanto piam pássaros nefastos.
in Poemas Durante a Chuva
Lisboa, Mariposa Azual
6.11.16
1.11.16
Agenda
Quando a manhã for a meio
e a tarde quase fatal
entenderei ao que veio
a madrugada, afinal?
aceitarei que anoitece
a hora a escorrer de mim
quando o que quis que viesse
não veio, não foi assim
e o olhar do tempo, tranquilo
no espelho da minha mão
repete que sobre aquilo
a resposta é muda - e é não?
Outubro 2016
e a tarde quase fatal
entenderei ao que veio
a madrugada, afinal?
aceitarei que anoitece
a hora a escorrer de mim
quando o que quis que viesse
não veio, não foi assim
e o olhar do tempo, tranquilo
no espelho da minha mão
repete que sobre aquilo
a resposta é muda - e é não?
Outubro 2016
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