17.10.21

Não escolhas tanto

Não, não escolhas tanto

vê como enquanto
escolhes passa o tempo, e quanto
desdenhas te abandona
vê como se desgrenha
vê como desmorona
teu cabelo sem brilho, o teu mamilo 
o menisco no escuro, a rótula 
gasta, rota, torta 
já sem remédio, já sem resgate, 
vê o teu rosto que colado à tarde 
desbota 
e a testa que se crispa 
e a chispa 
morta 

Não escolhas tanto 
não vês que pouco importa 
de que lado te deitas 
se quanto enjeitas, 
se de quanto gostas, 
vê como parte, 
vê como corta 
a quina do crepúsculo a tua aorta

daquela esquina de onde ainda te fita 
vê a crina do sonho que se agita 
e vira as costas