8.10.06

Arquitetura


Existirmos é aquela voz que canta
na catedral onde ninguém a escuta
só ela sabe, esse cantar que trança
quanto lhe basta, quanto mais lhe custa

existirmos é a minúcia da planta
que a voz a sós arquitecta e executa
quem mais dirá se cruz, se luz, se lança
a alta ogiva do som, pontiaguda?

existirmos é o que esse canto busca:
só ele sabe quando quase o alcança
e -- tanto -- o quanto não o alcança nunca

existirmos é o mais que nele dança
e logo passa -- que a canção é curta
e a nave surda -- embora a vida tanta


in Poemas durante a chuva, Lisboa, Mariposa Azual, 1999

Sem comentários:

Enviar um comentário