Boda
Quando eu tiver cento e três anos
tu noventa e nove
calar-nos-emos na varanda
onde nada se move
tu fingirás que me ignoras
a tarde inteira
mas eu vou perguntando as horas
e assim te admiro, de esguelha
depois iremos às compras
lentamente, lentamente,
dois bichos nas suas conchas
tu, que és mais nova, irás à frente
quando voltarmos, muito mais tarde
à varanda quieta
o dia morrerá de velho
nós, sobreviventes
nadaremos os nossos olhos pela paisagem
tu acenderás um cigarro
eu, para ostentar delicadeza
tossirei só um bocadinho
mas pensarei aos berros:
assim, meu amor, já não vives muito
então tu, que me lês os pensamentos
sairás a bater todas as portas
três noites de chuva, três dias, tão lentos
escorrem pelos vidros -- já não voltam
26.7.05
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