28.7.05

Elevadores


Elevadores são máquinas solícitas
deslizam em silêncio entre o céu e a terra
esperam sem nenhuma esperança
o próximo chamado
elevadores nunca vão muito longe
não protestam, nada reivindicam
não querem para nada ter nas mãos
o próprio destino
lá do seu poço de sombra
de vez em quando espreitam cá para fora
olham as nossas ruas, saguões, corredores
o mundo onde agitamos, ciosos
a nossa sôfrega mobilidade
depois cerram de novo as pálpebras sem pressa
tão devagar, tão preguiçosamente
que terá sido antes um bocejo

elevadores são bichos circunspectos
preferem ficar no seu canto
devoram-nos sem apetite
vomitam-nos sem asco
têm, com certeza, os seus altos e baixos
mas não se queixam
no máximo param entre dois andares
e não avisam o porteiro

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